O Seminário, “coração da Diocese”

João Paulo II, na exortação apostólica Pastores do Rebanho (PR), sobre “O Bispo, servidor do Evangelho de Jesus Cristo para a esperança do mundo”, refere-se ao Seminário como “um dos bens mais preciosos” de uma diocese (48).

Se olharmos para a história da nossa Diocese – e o mesmo, certamente, se dirá de todas as outras – o que sobressai, em primeiro lugar, é o cuidado pelo Seminário. Não admira por isso que, mesmo em condições políticas, sociais e até eclesiásticas adversas, esta porção do povo de Deus tenha sabido suscitar vocações sacerdotais. Pode mesmo dizer-se que foram os momentos difíceis que mais ajudaram a Diocese a perceber a importância do Seminário.

1 – Das origens até à extinção, em 1911

Coube a D. Pedro Vieira da Silva (1671-1676), mais de um século depois do decreto tridentino De reformatione, de 1563, a edificação do primeiro Seminário Diocesano, junto ao Convento de Santo Agostinho, sobre a margem esquerda do Rio Lis. O nome desse bispo ficou assinalado sobre a entrada do edifício, por baixo do seu brasão episcopal, numa lápide em latim, atribuída a D. Inácio da Fonseca Manso, bispo de Leiria (1818-1834), cuja tradução é a seguinte: “Pedro, enquanto viveu, não consentiu que se pusesse aqui este brasão; e, se lhe fosse dado, ainda hoje do túmulo o não consentiria”.

O seminário, entregue aos religiosos do mesmo Convento, por doação de 18 de Dezembro de 1672, com o passar dos anos, foi sendo abandonado, de tal modo que, quando D. Manuel de Aguiar entrou no bispado, em 1790, o edifício estava quase em ruínas. Por isso, este prelado teve de organizar, no seu próprio palácio, sobranceiro à Sé, um colégio para a formação eclesiástica de alguns jovens pobres. Em 1803, ele mesmo deu início à reconstrução do antigo edifício, reabrindo-o no ano seguinte e confiando-o, desta vez, aos religiosos da Congregação da Missão.

Durante a terceira invasão francesa (1810-1811), a cidade de Leiria foi saqueada e os melhores edifícios incendiados, incluindo o paço episcopal e o próprio seminário. Logo que pôde, D. Manuel de Aguiar reparou-o e reabri-o (Outubro de 1812). Estabeleceu nele a própria residência e aí veio a falecer em 1815.

Quando as tropas liberais se apoderaram da cidade, em Janeiro de 1834, o seminário foi novamente fechado, vindo a reabrir a 19 de Outubro de 1850, por obra do bispo D. Manuel José da Costa.

Com a extinção da diocese de Leiria (1881), os bens do Seminário foram adjudicados ao Seminário Patriarcal de Santarém, mas, por intervenção do deputado leiriense Dr. Adriano Xavier Lopes Vieira, esses bens foram transferidos, por carta de lei de 29 de Maio de 1884, para o Seminário de Coimbra, conservando-se porém, no Seminário de Leiria, enquanto nele estivessem instalados o Liceu e os alunos internos destinados ao estado sacerdotal (dados cedidos pelo Cón. Luciano Cristino).

Ali continuou a funcionar o Seminário Menor, até que o governo da República o incorporou nos bens do Estado, em 1911, extinguindo aí o ensino eclesiástico (P. José Fernandes de Almeida, “O seminário de Leiria, achegas para a sua história”, Leira 1987 [Almeida], 98).

2– Interregno: de 1911 até 1918

Neste período, embora tivéssemos vocações “em número e qualidade, graças ao zelo apostólico dum clero modelar…” (Almeida, 115), elas eram encaminhadas para Coimbra ou Lisboa (Seminário de Santarém), consoante a respectiva zona de anexação.

3 – Da casa do Padre Carvalho ao Seminário da Quinta da Bela Vista 

O P. Joaquim José Carvalho foi o último vice-reitor do Seminário antigo, após a extinção da Diocese, ao qual dedicou toda a sua vida de padre, sem nunca dali ter saído, para desempenhar qualquer outro cargo.

Em 17/12/1918, na sua quinta da Bela Vista, em Leiria, o P. Carvalho recebeu os primeiros 7 seminaristas (seis internos e um externo), tendo-se ordenado 3: João Ferreira Órfão, João Pereira Venâncio, Faustino Jacinto da Costa (Almeida, 118).

Em 29/8/1919, na expectativa da nomeação e da vinda do novo bispo para a Diocese restaurada, «O Mensageiro» de Leiria anunciava um próximo convite ao clero para se reunir, a tratar da forma de criar o Seminário Diocesano. O convite é assinado pelo P. Joaquim José Pereira, da Caranguejeira, decano do clero leiriense. A solução “imediata e provisória” passou por instalar os seminaristas em edifício independente arrendado, próximo do Terreiro. O Seminário começou com 8 alunos.

Nove dias após a sua entrada na Diocese, D. José Alves Correia da Silva, em provisão de 14/8/1920, escrevia: “O Seminário é o futuro da Diocese, como os filhos são a esperança da família. Da educação que os pais derem aos filhos depende a paz e a estabilidade da casa, o sossego da velhice e a continuação dos exemplos e tradições legados pelos avós. Em ponto maior sucede o mesmo com os Seminários… A prosperidade de uma Diocese aquilata-se pelo seu Seminário” (A. Zúquete, “Leiria, Subsídios para a História da sua Diocese”, Leiria 1945, 295).

D. José foi também morar para o Largo do Terreiro. Esta vizinhança revelou-se muito útil para o alojamento dos seminaristas, pois ali (no Paço Episcopal) se estabeleceram duas camaratas, “suficientemente espaçosas” (Almeida, 123). O seminário iniciou o ano de 1920-21 com 18 alunos.

Porque o espaço se tornou pequeno, nos inícios de 1922, o Seminário mudou-se para a rua de Marcos Portugal. Mas como rapidamente se revelou insuficiente, o edifício teve de sofrer sucessivas ampliações para receber o número crescente de alunos. Até que, em provisão de 25/7/1951, D. José dava a notícia da instituição de um pequeno Seminário em Fátima para formar seminaristas do 1.º e 2.º Ano de Preparatórios.

Na bênção e inauguração festiva do Seminário Menor de Nossa Senhora da Fátima, perante o clero da Diocese e os seminaristas, D. José declarava: “Sou pobre. De riquezas e bens materiais nada tenho que possa vir a deixar àqueles que me sucederem no governo desta Diocese. Mas provera a Deus que eu lhes pudesse legar uma geração de sacerdotes tão bons e zelosos como aqueles com que me encontrei, ao vir para aqui. Tenho para mim que esta é a maior riqueza que lhes poderei deixar” (Almeida, 128). Este Seminário funcionou entre 1951 e 1964 (13 anos) e por lá passaram 412 alunos; ordenaram-se 25. Nos dois seminários, em Outubro de 1951, estudavam 142 alunos: 59 em Fátima e 83 em Leiria.

Mas era intenção de D. José dotar a Diocese de um único edifício capaz de acolher todo o Seminário Diocesano. Pensado primeiro para Fátima, haveria de ser o seu sucessor a realizar esse sonho, não em Fátima, mas em Leiria, no espaço – quinta da Bela Vista – onde ele – João Pereira Venâncio – tinha sido acolhido como seminarista – Casa do P. Carvalho. A bênção da primeira pedra do novo seminário realizou-se em 10/6/1962 e os alunos iniciaram ali os seus estudos em 2/11/1965, com 187 alunos. A inauguração solene, no entanto, deu-se mais tarde, em 22/05/1968.

O edifício fora pensado para 250 alunos divididos em três secções independentes: Seminários Menor, Médio e Maior, mas logo no primeiro ano do seu funcionamento as camaratas tiveram de ser aumentadas para receber todos os candidatos.

4 – Grandes mudanças

Pouco depois de inaugurado, eis que as grandes mudanças sociais e eclesiais da segunda metade da década de 60 chegam também aos Seminários. Leiria não foi excepção: a partir de 1968, ano da solene inauguração, os alunos começam a fazer exames de equivalência no Liceu; de 1971 a 75, os anos correspondentes aos actuais 2.º e 3.º Ciclos passam a frequentar o Liceu; com o 25 de Abril, o 3.º Ciclo regressa ao Seminário, mas o 2.º Ciclo continua a ter aulas fora; em 1981, o Seminário deixa de receber alunos para 2.º Ciclo.

Em 1971, no que se refere ao Seminário Maior, é criado o Instituto Superior de Estudos Teológicos (ISET), em Coimbra, do qual a nossa Diocese é também fundadora. No ano seguinte, os nossos alunos começam a passar progressivamente para Coimbra.

Em 1981, 10 anos depois, o Seminário Maior regressa a Leiria e recomeça com 4 alunos.

Em 1995, passados 14 anos, os alunos (17) voltam a frequentar o ISET, integrando a comunidade do Seminário Maior de Coimbra.

Em 1996, o Seminário deixa de receber, progressivamente, alunos do 3.º Ciclo e é criado o Pré-Seminário; nesse mesmo ano, as Dioceses do Centro lançam o Ano Propedêutico, que funcionou em Leiria até 2011.

Em 2000, o Seminário Menor deixa de funcionar por falta de candidatos.

Em 2010, os alunos do Seminário Maior passam a frequentar a Faculdade de Teologia da Universidade Católica e a integrar a comunidade do Seminário Maior de Lisboa.